Toda a gente sabe que os
Portugueses já estão habituados a liderar todo o tipo de rankings. Já lideramos
no alcoolismo, na sinistralidade rodoviária (liderando um não é estranho que
lideremos o outro), já comandamos o ranking de maior taxa de desemprego na
Europa, até que Espanha percebeu a importância desse estatuto, deu corda aos
sapatos e nos passou na curva. Contudo há um primeiro lugar que Portugal nunca
há-de perder: o de país com o maior número de capitais. Habitualmente todos os
países têm a sua. Portugal não! Temos uma data delas. Aliás, se repararmos bem
há poucas, se é que existem, cidades em Portugal que não são capitais de merda
nenhuma. Tudo quanto tem uma bandeira e um brasão é capital de alguma coisa. Se
não reparem: Paços de Ferreira é a capital do móvel. São João da Madeira e
Felgueiras dividem entre si o honroso estatuto de capital do calçado. Mirandela
é a capital do Jet-ski e junta a esse já pesado fardo a designação de capital
da Alheira, como se ser capital de uma coisa não lhes bastasse. Óbidos é a
capital do chocolate, eu diria, uma das capitais mais doces do mundo. Vila
Praia de Âncora é a capital da sardinha, como se ser capital da sardinha fosse
algo de que uma pessoa se possa orgulhar. Ponte de Lima é a capital do cavalo,
e aguarda com ansia uma capital da égua para que possam dar origem à capital do
potro. Por isso reparem, os portugueses não podem dar um passo fora da porta
que não estejam enfiados no meio dos congestionamentos e do trânsito da
capital. Porque para onde quer que se virem, estão lá sempre! No estrangeiro as
pessoas aproveitam as férias para sair das capitais, zonas metropolitanas por
norma muito movimentadas, e relaxarem um pouco numa zona mais calma, mais
relaxada. Pois, nós não podemos! É por isso que andamos stressados. Porque
mesmo que um Sintrense, farto da loucura que é viver na capital do Romântico
decida tirar uma semana de férias, no sossego, pelo menos seria essa a sua
esperança, de Trás-os-Montes, e vá por exemplo até Montalegre, chegado lá, já
se lixou: está na capital dos enchidos. Rodeado por todo aquele trânsito
infernal que está adjacente a um sítio que produz tamanho número de chouriças
de cabidela. Também a verdade é uma ninguém o mandou ir para o centro de
Montalegre. Então que procure uma aldeia qualquer ali de roda. Mas lá está,
anda 10km, chega á aldeola de Vilar de Perdizes e lá está o Padre Fontes com um
caldeirão e uma vassoura a reclamar para aquele local o estatuto de capital das
ciências ocultas. Vilar de Perdizes tem 460 habitantes! E é capital! Tem quase
metade dos habitantes do Vaticano que toda a gente julga ser a capital mais
pequena do mundo! Não é! É Vilar de Perdizes! Se cada capital que existe em
Portugal tivesse um parlamento eramos todos deputados e ainda tínhamos que ir
buscar alguns ao estrangeiro...
Para terminar, dizer apenas que
me surpreende que Alfandega da Fé não seja capital de coisa nenhuma. Uma cidade
tão bonita não merecia ser desclassificada desta maneira, e ser provavelmente a
única cidade em Portugal que não é capital de coisa nenhuma. O problema? É que
as pessoas quando souberem disto vão todas para Alfandega da Fé para fugirem da
capital, e aí Alfandega da Fé vai tornar-se na “Capital das pessoas que estão
fartas de capitais!”. E aí temos todos que emigrar ou viver na metrópole…
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