quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Um país cheio de capitais




Toda a gente sabe que os Portugueses já estão habituados a liderar todo o tipo de rankings. Já lideramos no alcoolismo, na sinistralidade rodoviária (liderando um não é estranho que lideremos o outro), já comandamos o ranking de maior taxa de desemprego na Europa, até que Espanha percebeu a importância desse estatuto, deu corda aos sapatos e nos passou na curva. Contudo há um primeiro lugar que Portugal nunca há-de perder: o de país com o maior número de capitais. Habitualmente todos os países têm a sua. Portugal não! Temos uma data delas. Aliás, se repararmos bem há poucas, se é que existem, cidades em Portugal que não são capitais de merda nenhuma. Tudo quanto tem uma bandeira e um brasão é capital de alguma coisa. Se não reparem: Paços de Ferreira é a capital do móvel. São João da Madeira e Felgueiras dividem entre si o honroso estatuto de capital do calçado. Mirandela é a capital do Jet-ski e junta a esse já pesado fardo a designação de capital da Alheira, como se ser capital de uma coisa não lhes bastasse. Óbidos é a capital do chocolate, eu diria, uma das capitais mais doces do mundo. Vila Praia de Âncora é a capital da sardinha, como se ser capital da sardinha fosse algo de que uma pessoa se possa orgulhar. Ponte de Lima é a capital do cavalo, e aguarda com ansia uma capital da égua para que possam dar origem à capital do potro. Por isso reparem, os portugueses não podem dar um passo fora da porta que não estejam enfiados no meio dos congestionamentos e do trânsito da capital. Porque para onde quer que se virem, estão lá sempre! No estrangeiro as pessoas aproveitam as férias para sair das capitais, zonas metropolitanas por norma muito movimentadas, e relaxarem um pouco numa zona mais calma, mais relaxada. Pois, nós não podemos! É por isso que andamos stressados. Porque mesmo que um Sintrense, farto da loucura que é viver na capital do Romântico decida tirar uma semana de férias, no sossego, pelo menos seria essa a sua esperança, de Trás-os-Montes, e vá por exemplo até Montalegre, chegado lá, já se lixou: está na capital dos enchidos. Rodeado por todo aquele trânsito infernal que está adjacente a um sítio que produz tamanho número de chouriças de cabidela. Também a verdade é uma ninguém o mandou ir para o centro de Montalegre. Então que procure uma aldeia qualquer ali de roda. Mas lá está, anda 10km, chega á aldeola de Vilar de Perdizes e lá está o Padre Fontes com um caldeirão e uma vassoura a reclamar para aquele local o estatuto de capital das ciências ocultas. Vilar de Perdizes tem 460 habitantes! E é capital! Tem quase metade dos habitantes do Vaticano que toda a gente julga ser a capital mais pequena do mundo! Não é! É Vilar de Perdizes! Se cada capital que existe em Portugal tivesse um parlamento eramos todos deputados e ainda tínhamos que ir buscar alguns ao estrangeiro...
Para terminar, dizer apenas que me surpreende que Alfandega da Fé não seja capital de coisa nenhuma. Uma cidade tão bonita não merecia ser desclassificada desta maneira, e ser provavelmente a única cidade em Portugal que não é capital de coisa nenhuma. O problema? É que as pessoas quando souberem disto vão todas para Alfandega da Fé para fugirem da capital, e aí Alfandega da Fé vai tornar-se na “Capital das pessoas que estão fartas de capitais!”. E aí temos todos que emigrar ou viver na metrópole…  

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