Hoje estava junto de uma igreja
ortodoxa, onde decorriam algumas festividades, vendia-se doces, pipocas,
carrinhos telecomandados dos marroquinos, tudo como cá portanto, se há coisa
que nunca há-de faltar em arraias dedicados a figuras religiosas é brinquedos
contrafeitos, mas, para além disso, reparei em algo que é comum em todo lado:
as velas! Lá estava um individuo, com um ar bastante duvidoso, a vender paus de
cera, que, ou pelo menos as pessoas que os compram assim o esperam, vão
resolver todo o tipo de problemas. Uma coisa vocês devem saber: podem rezar,
implorar, mas as altas instâncias do céu dão sempre prioridade a quem puser
alguma coisa a arder em sua honra. Sem distinções de credos. Tanto vale serem
cristãos, ortodoxos, muçulmanos, adventistas do sétimo dia, do oitavo, do nono,
satânicos, ou de outra crença qualquer, se querem passar à frente dos outros na
fila, têm que por alguma coisa para queimar. Reparem, o diabo pelos vistos
gosta de ver os seus súbditos cortar a cabeça a galinhas, a vacas, e demais
animais que dariam excelentes cozinhados se não fossem oferecidos a lucifer, o
seu “vizinho” do andar de cima, a julgar por aquilo que fazem os seus fiéis,
gosta mais de dinheiro, enfim, são gostos e gostos não se discutem, mas há uma
coisa que é comum aos dois, por muito diferentes que sejam, que são justamente
as velas. Se há coisa que as divindades nunca se haverão de fartar é de ver
pavio queimado em sua honra. Eles estão lá em cima, vêm aquele bocado de chama
flamejante a brilhar em seu nome e os seus olhos brilham logo de alegria, de
regozijo. São Pedro pode estar no céu, a ter um dos piores dias da sua vida
(que ao fim de mais de 2000 anos até estar vivo já cansa), farto de abrir e
fechar os portões (há dias que chega ao fim com o dedo todo queimado de tanto
carregar no botão da abertura automática), farto de ouvir queixas de mulheres a
dizer que querem ir ver os maridos ao inferno, que basta alguém incendiar um
bocadinho de pavio e dizer: esta é para o S. Pedro, ele fica logo a transbordar
de contentamento como se lhe tivesse saído o euromilhões (que para ele não é
assim grande avaria, só na basílica dele no Vaticano ganha um euromilhões por
mês… é verdade que a maior parte é em moedas de 1 e 2 euros, e é chato para
contar, mas ainda assim é dinheiro). E portanto basicamente é isto, estava lá
parado, a olhar para aquela cera toda a chamuscar, e pensei: porque é que tudo
quanto é divindade gosta de ver coisas a arder? Não lhes chegava aquela
cerimónia toda da santificação que tem mais fogo que a cerimónia de abertura
dos Jogos Olímpicos? Pois é, pelos vistos não…
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